O que aprendi com Kim Parsell

Há alguns meses, eu nunca tinha ouvido falar de Kim Parsell. E jamais poderia imaginar que esta americana do interior do estado de Ohio, teria um impacto tão grande na minha vida.

Kim vivia na fazenda que pertence à sua família desde 1908. Gostava de jardinagem, antiguidades e fotografia. Mas, diferentemente do que você possa pensar, ela trabalhava com tecnologia. Era web designer freelancer e uma das maiores contribuidoras da documentação do core WordPress. Ficou conhecida como #wpmom, título que ela abraçou e fazia jus por sua generosidade e abertura. Participava de WordCamps e atuava sempre procurando estimular mais mulheres a participarem das atividades da comunidade WordPress. E foi tudo isso que causou os acontecimentos que me levam a escrever este post.

Kim Parsell no WordCamp São Francisco 2014, por Drew Jaynes.
Kim Parsell no WordCamp São Francisco 2014, por Drew Jaynes.

Em dezembro de 2014, Kim Parsell faleceu em sua casa, aos 58 anos. Deixou em luto não só sua família, como muitos membros e amigos da comunidade WordPress. Assim, para homenagear seu legado, a Fundação WordPress decidiu criar a Kim Parsell Memorial Scholarship – uma bolsa para proporcionar participação anualmente de uma mulher de qualquer lugar do mundo no WordCamp US.

Em agosto de 2015 as inscrições para a primeira edição da bolsa foram abertas. O Allyson me avisou e eu acabei me inscrevendo.

Sou uma pessoa que costuma “tentar a sorte” sem esperar nada, ainda mais quando não tenho nada a perder. Dediquei alguns minutos para preencher o formulário com o meu inglês enferrujado. Alguns dias depois, recebi um email dizendo que estava sendo cotada para a bolsa, e pediam que eu explicasse porque merecia e os convencesse de que eu deveria ganhá-la.

Foi uma tarefa difícil, pois não sabia o que dizer. Pensei em escrever algo “impactante” mas tudo soava muito falso, não sabia o que poderia convencê-los. Deixei as ideias amadurecendo na minha cabeça, e mais tarde resolvi escrever sendo o mais sincera possível. Contei como contribuía com WordCamps e Meetups aqui em São Paulo, e que recentemente também nos mobilizamos para aumentar a participação feminina nas atividades. Mas falei principalmente que se eu conseguisse a bolsa, procuraria fazer para outras mulheres o que exemplos como o de Kim fizeram para mim: mostrar que estes espaços também são nossos.

Em nenhum momento eu achei que fosse conseguir a bolsa – não porque não pudesse, mas porque não criei expectativas. Eu já havia esquecido dela, quando recebi um email avisando que eu havia sido escolhida como ganhadora da bolsa.

O Alx Block, organizador do WordCamp US e a Cami Kaos, da fundação WordPress entraram em contato comigo e muito solícitos e gentis me parabenizaram, tiraram todas as dúvidas (a primeira foi: Is this for real?) e começamos a pensar na viagem. Allyson ia comigo. Não tínhamos passaporte (portanto nem o visto americano), e nos 2 meses seguintes corri para tentar providenciar tudo. Antes o que parecia tão distante, até inalcançável, estava se tornando real.

Infelizmente, a realidade é dura e insensível, e ela me mostrou toda sua indiferença quando eu tive o visto negado. Duas vezes. Recebi o temido papel rosa 214(b), alegando que eu não tenho vínculos suficientes com o meu país.

Eu sou o esquilo, a noz é a viagem e o gelo é o visto.

As atividades do WordCamp US começam hoje, 02/12. Estarei acompanhando via live streaming. É frustante não poder comparecer ao evento, não poder estar lá representando o legado da Kim Parsell e também porque seria uma experiência incrível conhecer todas aquelas pessoas e lugares.

Mas, apesar disso, estou feliz. Afinal, até agosto eu nem podia sonhar que nada disso acontecesse. Portanto o saldo foi totalmente positivo.

Fico muito honrada por ter sido escolhida. Vejo isto como um sinal de que estou no caminho certo, e preciso mais do que nunca continuar.

E pesquisando sobre a mulher de quem eu nunca havia ouvido falar, percebi que Kim Parsell tinha mesmo muito o que ensinar.

1. Sobre humildade

“Keep your head down and kick ass”

Ou algo como “Mantenha sua cabeça baixa e arrase”. Segundo Jayvie Canono, era o que ela praticava. “O reconhecimento virá, e mesmo que não venha, você sabe que trabalhou duro”.

2. Sobre consideração

“The greatest thing about Kim is that whether you’re standing at the back of the line or the front she would have walked her way down that line to let everyone know they were equally as important and that the only reason there’s a line is because everyone can’t be in the same place at once.”

“A melhor coisa sobre Kim é que não importa se você está no fim da fila ou no no começo, ela percorreria a fila toda até o final para  para que todos saibam que eram igualmente importantes e que a única razão pela qual há uma fila é porque todos não pode estar no mesmo lugar ao mesmo tempo” comentou Amanda Rush, em um post de Carrie Dills sobre o falecimento de Kim.

3. Sobre ver a beleza das coisas

Call Of The Wild
Call Of The Wild – fotografia de Kim Parsell

Kim gostava de fotografar e tinha talento para capturar belas imagens, principalmente dos céus de sua propriedade em Ohio. Mas por todos os depoimentos que li, parece que ela sabia ver todas as coisas de um jeito positivo, como uma fotografa que sempre consegue achar o melhor ângulo da vida.

 

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7 comentários

  1. Adorei a postagem, Anyssa! Nossa…deve ter sido super frustrante o lance do visto, mas que sabe isso não se resolve numa próxima vez? Se você foi selecionada, talvez tenha outra chance no futuro. =) A Kim Parsell parece ter sido mesmo uma pessoa inspiradora! Deixou um verdadeiro legado! <3

    • Sim Julia, eles vão tentar transferir a passagem para o ano que vem. Mas aí eu tenho que mostrar que minha situação mudou para conseguir o visto.

  2. Poxa, fiquei bem triste de saber que não rolou. Mas agradeço ao mesmo tempo por ter me apresentado a Kim Parsell. Que história bacana! E será que se você conseguir juntar uma grana até lá, ajuda no visto? Podíamos tentar um crowdfunding!

    • Dani, obrigada :). O problema nem foi a grana acho, foi mais provar que eu tenho vínculos suficientes pra voltar ao Brasil. No formulário do visto tem um campo pra falar se tem uma petição pública pra vc conseguir o visto. É uma opção, vou ver isso ano que vem se der 🙂

  3. Fiquei triste por vocês dois, seria uma experiência incrível. Mas, quem sabe, ano que vem não será ainda melhor? Temos que tentar ver o lado positivo das coisas, mesmo 🙂

    • Outra coisa boa foi que treinei bastante o inglês rs.
      Agora vou tentar ir pra outro país antes, pra mostrar que eu volto pra cá haha

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